Com ou sem Glúten?

Nos últimos anos, o número de alergias e intolerâncias alimentares tem vindo a aumentar significativamente, não sendo abrangente à totalidade da população. No entanto, este crescimento leva a maiores receios e dúvidas quanto ao consumo de determinados produtos alimentares que contém alguns dos alergénios mais conhecidos.

Um dos mais abordados e que está presente na grande maioria dos indivíduos que pratique uma dieta mediterrânica é o glúten. Este componente está presente em diversos alimentos e faz parte dos hábitos de consumo há milhares de anos. Mas será que todos nós devemos evitar consumi-lo ou será apenas mais um caso de “moda”?

Glúten, o que é?

O glúten é uma proteína de origem vegetal, presente nos cereais como o trigo, o centeio e a cevada e tem como principal função conferir elasticidade e uma consistência esponjosa e fofa em alguns produtos derivados destes cereais, como massa, pão e bolos.

Em situações clínicas específicas, o glúten provoca uma reação imune causando uma inflamação crónica na mucosa e submucosa do intestino delgado, levando a uma atrofia das vilosidades intestinais e consequentemente uma alteração na absorção de vários nutrientes, tis como Ferro, Ácido Fólico, Cálcio e Vitaminas lipossolúveis, podendo desencadear vários défices nutricionais e desenvolver outros problemas de saúde.

Neste seguimento, o consumo de glúten não se mostra prejudicial quando feito por pessoas saudáveis. No entanto, a introdução do mesmo apresenta malefícios quando consumido por doentes celíacos, pessoas que apresentam sensibilidade ao glúten não celíaca ou alergia ao trigo. Embora nas duas últimas situações, haja sensibilidade ao mesmo componente e a sintomatologia seja semelhante, as lesões no intestino e o consequente défice nutricional e surgimento de outras patologias, têm um risco mais baixo e poderão não ser apresentadas consequências negativas a longo prazo.

Contudo, em qualquer situação clínica que assim o exija, os alimentos fornecedores de glúten devem ser retirados da alimentação de forma permanente para que haja uma melhoria na sintomatologia observada nos indivíduos. Esta retirada de alimentos que contenham glúten na sua composição não deve ser feita de forma espontânea, pois pode desencadear outras alterações nutricionais e trazer outras consequências, toda a alteração específica em qualquer dieta deverá ser feita sob supervisão de um técnico para garantir uma correta adequação nutricional.

A eliminação do glúten permite que o intestino regenere por completo das lesões e o organismo recupere, traduzindo-se na diminuição dos sintomas, na melhoria dos parâmetros serológicos e histológicos e do estado nutricional do celíaco de forma geral. No entanto, nunca deve iniciar a DIG antes da confirmação do diagnóstico, evitando resultados inconclusivos com grande prejuízo para os doentes.

Dieta sem glúten é mais saudável?

Quando falamos numa dieta isenta de glúten (DIG) tal implica uma exclusão de todos os alimentos que contenham glúten, ou seja que sejam elaborados ou incluam na lista de ingredientes trigo, centeio e cevada. Associado a estes ingredientes podemos encontrar alimentos altamente processados, tais como bolachas, biscoitos, bolos, cereais açucarados entre outros, onde geralmente estes produtos são ricos em açucares, gorduras e gorduras saturadas e pobres micronutrientes.

No entanto, é possível que estes alimentos sejam substituídos por outros que contenham a indicação de serem isentos em glúten, mas tal não significar que são baixos em gorduras e açúcares, uma vez que continuam a ser bolachas, biscoitos, bolos e cereais, mas produzidos com outros cereais e ingredientes na sua base.

Se por outro lado, a pessoa que inicia uma alimentação isenta em glúten, retira do seu dia alimentar este tipo de alimentos altamente processados e apenas inclui alimentos naturalmente sem glúten, pode iniciar uma alimentação mais saudável. Não porque está a evitar o glúten, mas porque está a aumentar o consumo de outros produtos ricos em termos nutricionais como por exemplo: frutas, hortícolas, lacticínios, carnes, pescados, ovos, leguminosas, cereais integrais isentos de glúten (milho e arroz), quinoa e tubérculos.

A introdução destes produtos como base da dieta alimentar, aumenta o nível de fibra obtida, reduz o consumo de açúcares e gorduras saturadas, contribuindo para uma melhor regulação do trânsito intestinal, promove uma correta absorção de nutrientes, permitindo uma sensação de bem-estar geral.

Nutricionista, Jacinta Mendes
3341N